FIRE Jovem - Coronavírus: responsabilidade em tempos de crise

22 de março de 2020

Olá, senhoras e senhores


Gostaria de compartilhar com vocês minha visão sobre este momento de crise e porque é fundamental ter responsabilidade no manejo do patrimônio.

O coronavírus chegou e chegou com força, os mercados globais caíram abruptamente, a crise chegou, o bear market parece estar instalado e provavelmente enfrentaremos momentos difíceis em nossas vidas pessoais nos próximos meses (quiçá anos). O coronavírus é o famoso cisne negro Talebiano, no entanto ele é apenas o estopim de uma crise de demanda que deve agravar a bolha de endividamento global gerada nos últimos anos.

Por isso deixo aqui o apelo: o momento é de responsabilidade. Pode ser uma afirmação tardia e óbvia, mas ainda vejo 'consultores profissionais' dizendo que a bolsa está barata e é hora de comprar, fazendo uma análise completamente equivocada dos números. Há quem diga que as empresas estão baratas porque o P/L está baixo, que a queda é uma reação superdimensionada do mercado e logo tudo volta, etc, etc...

Não é bem assim: o P/L está baixo porque estamos comparando os preços de hoje com os lucros obtidos nos últimos 12 meses, no entanto o mercado precifica o lucro futuro. É certo que nos próximos meses o lucro de praticamente todas as empresas da bolsa irá despencar (veja a imagem abaixo para as expectativas de receita das empresas no mundo), o P/L que vemos hoje é uma medida atrasada, nos mercados o que importa é o futuro, e o futuro não parece bom no curto-médio prazo. É certo que algumas empresas serão mais impactadas que outras e que no longo prazo as boas empresas tendem a sobreviver e voltar aos patamares anteriores, mas mesmo assim cautela é fundamental.

Expectativa de queda nos ganhos da empresas nos próximos meses
Por pelo menos 3 meses viveremos em quarentena, provavelmente haverá um efeito cascata na economia: as pessoas não consomem porque não podem sair às ruas, a economia informal (40% da força de trabalho brasileira) é extremamente dependente das compras feitas diretamente nas lojas. Além disso teremos restaurantes, fábricas e pequenas empresas de portas fechadas neste período. Como o gasto de uma pessoa é a renda de outra, enfrentaremos uma grave crise de demanda em escala global. O que deve acontecer é o seguinte:

- Com a falta de demanda gerada pela quarentena as receitas irão despencar, com isso as empresas serão forçadas a cortar custos e demitir pessoal.
- O pessoal demitido deixa de ter renda para consumir e fortalece o efeito de demissões.
- O governo será obrigado a elevar drasticamente o gasto público para conter os efeitos do desemprego e da falta de demanda (em paralelo tem que investir pesado no sistema de saúde).
- Com as taxas de juros em mínimas históricas (juros reais praticamente negativos) não restarão muitas alternativas que não sejam: incentivos fiscais e impressão direta de dinheiro.
- Empresas alavancadas (com dívida alta) e receitas caindo serão obrigadas a vender ativos e, em última instância, declarar falência por não poder arcar com a dívida.
- Empresas (especialmente os microempresários) com problemas de fluxo de caixa terão de fechar as portas por não conseguirem gerar renda para arcar com os custos do mês.

Esse é o panorama no Brasil, mas ele deve ocorrer em escala global. Há ainda um agravante no mercado global: com as taxas de juros pelo mundo em quase 0% há alguns anos (ou até negativas) o acesso ao crédito ficou extremamente fácil, o que levou a um nível de endividamento enorme no sistema (mais de USD 250 trilhões em dívidas ou 322% do PIB global). Essa dívida será cobrada e os devedores não terão receita para pagá-las, é provável que vejamos empresas enormes quebrando ou sendo amparadas pelos governos.

Dívida global em 2019 

Por isso repito: o momento é de responsabilidade. Eu diria que praticamente todos corremos um sério risco de ficarmos desempregados nos próximos meses, penso que o mais certo a fazer agora é usar os salários que recebermos para aumentar a reserva de emergência e manter a liquidez tanto quanto possível. Não tem como prever o que vem pela frente, é fundamental que tenhamos liberdade e, na crise, liberdade é liquidez.

Minha situação e o que irei fazer:
- Sendo estagiário, acho provável que eu seja um dos primeiros a ficar desempregado nesta crise (contrato de trabalho flexível para demissão, não tenho família para criar e não ocupo cargo essencial na empresa).
- Irei destinar os próximos salários à Reserva de emergência/Caixa e diminuir o volume de aportes.
- Voltarei a aportar normalmente quando a volatilidade passar e os mercados estabilizarem (seja subindo ou descendo).
- Os aportes na crise serão destinados à empresas com endividamento baixo e de setores perenes (não-cíclico, elétricas, saneamento...)
- Aproveitarei o tempo de quarentena para fazer cursos online e incrementar o currículo, terei de estar no topo da cadeia de contratação quando a crise passar.

Essa é a minha visão sobre isso tudo, ficaria extremamente contente em poder debatê-la com vocês nos comentários, sintam-se livres para expor suas opiniões.


2 comentários:

  1. excelente publicação.

    Pé no chão mas olhos atentos, vou continuar acompanhando o Blog, coisa boa vem por aí.

    Att.
    https://investindorapido.blogspot.com

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    Respostas
    1. opa! fico feliz que gostou

      Isso aí, olhos atentos e pés no chão, no longo prazo tudo se acerta

      Excluir



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