FIRE Jovem - Por que ser Independente Financeiramente e Não depender do INSS? [Capítulo I]

20 de janeiro de 2022

 Saudações aos velhos e aos novos leitores deste blog. Talvez alguns de vocês se lembrem que no fechamento mensal de agosto de 2021 eu comentei que havia iniciado um projeto para escrever um livro sobre independência financeira. Bom, o post de hoje é, basicamente, o primeiro capítulo do livro. 


A ideia é esclarecer ao público mis leigo porque não devemos depender do INSS e porque devemos buscar a independência financeira dependendo dos nossos próprios recursos. Para os leitores já têm consciência sobre o assunto que abordarei, peço que leiam do ponto de vista de um leigo no assunto da independência financeira e, por favor, tragam seus comentários e críticas sobre o post (estou aberto a elas). Gostaria de que me ajudassem a responder o seguinte:


1) A linguagem está clara e suficientemente fácil para um público mais leigo?

2) Vocês sentem que os argumentos são persuasivos o suficiente para deixar claro que não devemos depender do INSS?

3) Dá vontade de ler o ques 'estaria por vir' no livro?


Vamos ao texto:


1. Por que ser Financeiramente Independente?


“A história não se repete, ela gagueja” – Paris, 1968.


No Brasil, alcançar a independência financeira por meio dos seus próprios investimentos e sem depender do governo não é uma questão de busca pelo conforto, é uma questão de lógica. Existem duas alternativas: construir um patrimônio e alcançar a independência financeira por si só ou depender do incompetente governo brasileiro. Espero que até ao final deste capítulo você se convença da escolha correta. Como veremos, o sistema previdenciário brasileiro está projetado para vivermos com o mínimo necessário para nosso sustento na aposentadoria. A cada nova reforma da previdência a idade mínima para se aposentar se torna mais elevada e os benefícios de outrora se esvaem.


A regra em vigor para trabalhadores urbanos do setor privado no Brasil é a seguinte:

Mulheres

Homens

Idade mínima: 62 anos.

Tempo de contribuição mínimo: 15 anos.

 

Idade mínima: 65 anos.

Tempo de contribuição mínimo: 20 anos.

 

 

Cálculo do benefício:

Benefício = 60% da média de 100% dos salários recebidos + 2% por ano de contribuição acima do tempo mínimo (15 anos para mulheres e 20 anos para homens).

Teto do benefício (2021): R$ 6.433,57


Para que um trabalhador receba o teto do INSS é necessário que todos os requisitos a seguir sejam cumpridos:

1) A média de 100% dos seus salários (todos os salários desde o início da carreira) seja igual ou maior que o teto do benefício.

2) O trabalhador deve ter ao menos 62 anos (mulheres) ou anos (homens).

3) O trabalhador deverá ter contribuído por pelo menos 35 anos (mulheres) ou 40 anos (homens).


Ou seja, na melhor das hipóteses você receberá um salário pouco acima de 6.000 reais depois dos 62 anos de idade, tendo trabalhado (e contribuído com o INSS) por 35 anos, desde que a média de todos os seus salários, contando o primeiro emprego, tenha sido maior ou igual ao teto do benefício. Vale mencionar que o valor do teto é ajustado anualmente pelo INPC (índice irmão do IPCA). Tenha em mente que somente os custos com plano de saúde hoje são de 1.000 a 1.500 por mês para idosos (25% do teto da aposentadoria indo embora!). E tudo isso considerando o maior benefício possível do INSS, o que por si só é um sonho distante para a grande maioria dos brasileiros. Algumas perguntas que podem vir à mente:


·       Posso aposentar antes da idade mínima se meu tempo de contribuição for grande? Não! Você só poderá aposentar a partir da idade mínima, mesmo já tendo contribuído tempo suficiente para atingir o teto.


·       E se eu contribuir pelo tempo mínimo e me aposentar assim que atingir a idade mínima? Neste caso você receberá 60% da média de todos os seus salários. O benefício pago pelo INSS será 40% menor que a média dos seus salários, ou seja, se você depender apenas do INSS seu padrão de vida irá diminuir consideravelmente.


E isso tudo considerando que não teremos uma nova Reforma da Previdência nos próximos 20 ou 30 anos, o que é bastante improvável. Muito provavelmente as condições necessárias para aposentar quando os jovens de hoje estiverem próximos dos 60 anos serão muito mais rigorosas. Sendo bem simplista, a previdência brasileira funciona em um regime em que os trabalhadores de hoje pagam os benefícios de quem está aposentado, assim, a fatia do seu salário que é destinada ao INSS é usada para o pagamento dos salários e benefícios de quem recebe o benefício do INSS atualmente. Este modelo de previdência faz sentido em países (ou épocas) em que há muitas pessoas trabalhando – e contribuindo com a previdência - e um número reduzido aposentados, pois dessa forma há bastante gente contribuindo para sustentar, merecidamente, os aposentados que já fizeram sua parte no passado. Esta talvez fosse a realidade brasileira na segunda metade do século XX, mas hoje a história é outra.


De acordo com o IBGE, a esperança de vida do brasileiro era de 63,1 anos¹ em 1970, já em 2014 esta marca estava em 75,1 anos². Paralelamente, a taxa de natalidade reduziu de 4,97 nascimentos por mulher em 1970 para 1,73 nascimentos por mulher em 2018³. A expectativa de vida aumentou 12 anos ao mesmo tempo em que as famílias passaram a ter, em média, 3 filhos a menos. A consequência óbvia é que a quantidade de aposentados deverá aumentar substancialmente ao passo que a ‘reposição’ de trabalhadores novos é reduzida, tornando muito difícil sustentar o modelo previdenciário. É muito provável, quase inevitável, que novas reformas da previdência ocorram e que a idade mínima da aposentadoria seja elevada a 67 ou 70 anos nas próximas décadas, sem contar as prováveis mudanças no cálculo do benefício e retirada de direitos. Escolher se aposentar pelo INSS sem um plano B é como apostar todas as suas fichas em uma loteria com prêmio baixo, que demora muito tempo para ser recebido e com tendência a diminuir conforme o tempo passa. Todo adulto com menos de 50 anos deve estar preocupado com a aposentadoria, se você for jovem preocupe-se desde o seu primeiro dia de trabalho, do contrário, deixará seu futuro nas mãos do governo ou terá de ser sustentado pelos filhos, amigos e familiares. Pense bem antes negar a sobremesa ao Enzo ou à Valentina.


A Tabela abaixo mostra o benefício mensal do INSS para 10 pessoas hipotéticas calculado bom base na regra previdenciária vigente em 2021 e de acordo com o salário médio ao longo da carreira, idade e tempo de contribuição.


Tabela 1 – Benefício do INSS por Salário Médio, Idade e Tempo

Pessoa

Salário Médio

Idade

Tempo de Contribuição

Benefício Mensal

Ana

R$  7.000

62

15

R$ 3.860

Maria

R$  9.000

62

20

R$ 4.503

Cecília

R$11.000

62

25

R$ 5.147

Amélia

R$ 15.000

62

35

R$ 6.433

Paula

R$ 20.000

60

40

0

Rodrigo

R$   7.000

65

15

0

Luiz

R$   9.000

65

20

R$ 3.860

Pedro

R$ 11.000

65

25

R$ 4.503

Antonio

R$ 15.000

65

35

R$ 5.790

José

R$ 20.000

60

40

0

 

Vejamos alguns destes casos: Paula e José têm mais de 60 anos, salário médio de R$ 20 mil mensais e contribuíram por 40 anos seguidos, por tudo isso estas pessoas conquistaram o benefício mensal de 0 reais pelo resto da vida!


É chocante, mas esta é a situação de todos aqueles que não atingiram a idade mínima (na prática em 2021 essas pessoas têm direito à regra de transição, mas essa não será a realidade para os mais novos). O tempo de contribuição não importa, se você trabalhar desde os 16 anos e pagar o INSS todos os meses, não poderá se aposentar enquanto não atingir a idade mínima.


Agora vejamos os melhores casos da Tabela: Amélia e Antonio têm idade mínima para aposentar, contribuíram por 35 anos seguidos e terão direito a um salário de aproximadamente R$ 6.000 por mês. Não é um benefício baixo, especialmente comparado à renda média do brasileiro. No entanto, perceba que a média salarial deles antes da aposentadoria era de R$ 15.000 e assim, no dia em que aposentarem, terão um corte de R$ 9.000 com relação à média dos salários recebidos caso não gerem renda de outras formas.


Usar a média de 100% dos salários para calcular o benefício é particularmente desanimador, a consequência prática é a certeza que seu padrão de vida irá diminuir na aposentadoria caso dependa apenas do INSS. Isso porque o benefício será calculado a partir da média de todos os seus salários desde o seu primeiro emprego, ou seja, se você começou a trabalhar de forma registrada com 18 anos e recebia o salário-mínimo, estes salários irão entrar na conta para o cálculo do benefício final, jogando a média para baixo. Antes da Reforma de Previdência de 2019 o benefício era calculado eliminando os salários mais baixos, o que aumentava substancialmente o valor recebido.


Para que tenhamos uma ideia do impacto no padrão de vida das pessoas que se aposentam dependendo unicamente do INSS, veja a gráfico a seguir. Nele você encontrará a evolução do padrão de vida de 10 pessoas hipotéticas que contribuíram dos 25 aos 65 anos, tendo direito ao benefício igual à média de 100% dos salários ao longo da vida, limitado ao teto do INSS. Nesta simulação vamos assumir que os salários aumentaram 2% acima da inflação anualmente e a diferença do salário inicial foi de R$ 250 de pessoa para pessoa, sendo R$ 1.000 o menor salário inicial (ou seja, o menor salário inicial era de R$ 1.000, o segundo menor de R$ 1.250 e assim por diante).


FIRE Jovem - benefício do INSS após a aposentadoria com base no histórico de salários


Perceba que independentemente da faixa salarial, todas pessoas da simulação teriam um salário menor na aposentadoria comparado ao último salário recebido enquanto trabalhador ativo. Note também que quanto maior o salário recebido próximo da aposentadoria, maior o tombo da renda ao se aposentar. Não há alternativa, se quiser manter o padrão de vida após a aposentadoria será preciso complementar a renda do INSS de outras formas, seja com investimentos, aluguéis, previdência privada ou emprego em idade avançada.


Pense no seguinte: se você não deseja continuar trabalhando até os 62-65 anos (ou 67-70 anos se você for jovem) você deve assumir que não receberá nada do INSS. Sim, é isso mesmo! Se não quer trabalhar até morrer o problema é seu, se vira, você só terá direito a aposentadoria (em condições normais de saúde e não sendo parte dos regimes diferenciados de professores, trabalhadores rurais, policiais ou funcionários públicos) a partir da idade mínima de 62 anos para mulheres ou 65 anos para homens, antes disso você não tem direito a absolutamente nada! Ou seja, se você, por algum motivo, deseja se aposentar aos 45, 50, 55 ou mesmo 60 anos, você não poderá contar com nenhuma renda do INSS até ter a idade mínima. Se a aposentadoria antecipada for um dos seus objetivos, parta do princípio de que você não receberá absolutamente nada do INSS e planeje-se de acordo*. Pode parecer forçado da minha parte, mas esta é a realidade.


*Eu não estou sugerindo que abandonar completamente o INSS seja uma boa ideia, se você estiver próximo da idade mínima de aposentadoria (digamos de 1 a 15 anos) e já tiver contribuído ao longo de toda vida (de forma obrigatória) será financeiramente vantajoso continuar contribuindo até a idade mínima para não desperdiçar os anos de contribuição anteriores. No entanto, existem pessoas que planejam se aposentar tão cedo quanto 40 anos, neste caso o INSS não será de muita serventia. De qualquer forma, você não terá direito a um tostão pelo INSS enquanto não completar a idade mínima, caso ainda queira receber o benefício será preciso continuar contribuindo pelos anos que faltarem até a idade mínima, obtendo o dinheiro de outra fonte de renda que não o trabalho formal.


1. Dados do IBGE  - Consulta disponível em: https://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=POP209 (acesso em junho de 2021).

2. Dados do IBGE - Consulta disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/tabela/1174 (acesso em junho de 2021).

3. Dados do Banco Mundial – Consulta disponível em: https://datatopics.worldbank.org/world-development-indicators/ (acesso em junho de 2021).


Um comentário:

  1. Fire Jovem,

    Parabéns pelo ótimo estudo sobre a Previdência Estatal Brasileira.

    Infelizmente acredito que nem 1% da população economicamente ativa desse país e com menos de 50 anos de idade parou para pensar nos problemas que enfrentará para se aposentar.

    Existem dezenas de milhões de brasileiros que não tem nenhum instrumento de geração de renda ou patrimônio além do próprio salário, a maioria bancando hoje um custo de vida muito acima da realidade que vai encarar quando se aposentar. Por sorte aqui na finasfera a maioria de nós já mostrou que tem uma mentalidade diferente.

    O meu maior medo no futuro é que o governo resolva tirar de nós que estamos tentando ganhar uma liberdade para dar para pessoas que poderiam ter feito algo (mas nunca fizeram) a respeito da própria velhice.

    Abraços,
    Pi

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